A história do Enduro da Independência contada por Marão

O Enduro da Independência é uma prova consagrada e, hoje pela sua tradição, tem presença obrigatória de quem de gosta de uma competição que realmente mexe com a alma da gente. Quem dele participou sabe muito bem do estou falando. Nesses 19 anos de sua existência, tornou-se ponto de referência para outras provas do mesmo molde.

Tudo começou com uma conversa em Brasília entre Ivys Alves - diretor da Rede Globo de Televisão – e seu amigo Roberto Lamaciê. Ivys falou com Roberto que tinha vontade de refazer o caminho onde Dom Pedro passou, vindo do Rio para Minas e que mais tarde levou o nome de Estrada Real. Roberto disse para Ivys que isto poderia ser feito de Moto!

Roberto que conhecia Rômulo Rocha (Rominho) então presidente do TCMG, disse - olha eu conheço um pessoal do TCMG, que faz Enduro de Motos. Roberto foi o elo de ligação entre Ivys e o TCMG. Primeiro encontrou-se com Rominho em sua casa, relatou o encontro que teve com Ivys e do interesse de Ivys em marcar um encontro para falar das suas idéias. Antes do encontro com Ivys, houve outro encontro de Roberto, Rominho e Aires Mascarenhas.

Neste encontro com Ivys na Rede Globo, compareceram Rominho e Aires. Roberto não mais apareceu. Aires Mascarenhas era vice-presidente do TCMG; juntamente com Rominho, tinham planos de fazer um Enduro mais longo de dois dias e duas noites, ou de três dias, pois vinham de uma experiência recente de um Enduro de dois dias. O Enduro (Dois Dias de Ouro Preto), e o primeiro Enduro Noturno, que se chamou (Bátima e as mil noites de Barbara), Rominho e Aires gostaram muito da idéia de Ivys.

Ivys que era um grande patriota e um apaixonado pela história (palavras de Rominho), apanhou um mapa do Brasil e foi mostrando o caminho percorrido por Dom Pedro. Olha, do Rio até aqui ele gastou 3 dias de viagem, dormiu aqui nesta fazenda, levando quatorze dias para completar o trajeto. Conversaram, estabeleceram-se as metas. A Rede Globo disponibilizou seu jeep Gurgel que foi usado primeiro no levantamento. Por que de jeep?

Para se ter uma idéia do tamanho do trajeto, da possibilidade de se fazer a prova em três dias. Como seria? Existia toda a estrada ou trechos dela? E se os trechos por ventura existentes, poderiam ser unidos por caminhos ou trilhas? Para levantar tudo isto, o primeiro levantamento foi feito por Rominho e Cadinho no jeep Gurgel.

Constatada a possibilidade, começou então o levantamento com motos. Participaram do levantamento Paulo Fiote, Teofilo Mascarenhas, Ricardo Lotte Gena (Dinho), João Quintiliano (João FBM) e Ricardo Bento Filho (Cadinho), que foram divididos em três grupos. Um grupo do Rio a Juiz de Fora , outro de juiz de Fora a Tiradentes e o outro de Tiradentes a Belo Horizonte. Quando a prova estava planilhada pelo Fiote, a conferida e o simulado foi feita por Rominho e Aires. Aires com uma DT e Rominho com uma XR200.Havia diferença nos velocímetros entre as duas Motos, mas a grande diferença que eles encontraram na maioria dos trechos era na conferência com a Planilha feita por Fiote (palavras de Rominho).

Feitas as correções, terminado o simulado, viram que a coisa estava ficando maior do que se esperava. Ivys então convocou Salvador Morais então diretor Comercial da Globo, empreendedora do evento, que foi atrás dos patrocinadores - primeiro a Cia Fiação e Tecidos Santa Rosa, depois por intermédio de Cristiano Melo Paz, Diretor da S MP&B, a Honda que forneceu para o TCMG duas motos as primeiras XL-250R, para o acompanhamento da prova.

Rominho e Aires revolveram então fazer mais um simulado e logicamente outra conferência (a quinta e última). Ao chegarem em Belo Horizonte, Ivys chamou Rominho e lhe disse: - Olha quero que você tire um mês de férias e fique por conta deste evento. Quero que você visite todas as cidades e lugarejos por onde vai passar a prova, procure as autoridades os prefeitos e mostre a eles a grandeza deste acontecimento e peça o apoio de todos, para que possamos fazer um evento que fique na história.

E assim fez Rominho por um mês. Ficou como se fosse um empregado da Globo (palavras de Rominho), visitou todas as cidades e lugarejos, procurou as autoridades e os prefeitos dizendo: - olha tal dia vai passar por aqui tantas Motos; uma corrida que sai do Rio e vai Belo Horizonte, percorrendo o caminho que Dom Pedro Passou, etc.etc.

Começava, então em 05 de setembro de 1983, a maior prova de Enduro de que se tem notícia no país, e que este ano, completa a sua 21ª edição. De lá para cá muita coisa mudou. Na primeira prova não havia ainda Categorias; todos disputavam entre si, mas já começava o rodízio entre os pilotos. Corria-se em duplas; hoje é individual. As motos eram nacionais; só na década de 90 começaram a aparecer as primeiras importadas que hoje são maioria com cerca de 89% do total. A planilha era um maço de folhas 20 x 15, que iam sendo dispensadas ao longo do trajeto; na década de noventa apareceu o Rood Book e mais recente o Rood Book elétrico, que facilita bastante para o piloto e evita que se jogue fora o papel sujando as trilhas. A navegação também mudou muito e para melhor. No começo o piloto dispunha só de um cronômetro e as contas eram feitas de cabeça, depois vieram as Ralimax e, mais ou menos na mesma época, apareceram os primeiros Compass, que não fizeram muito sucesso (não sei dizer porquê), depois apareceram as PCs 1500 e PCs 1600, que usei por um bom tempo. Hoje temos no mercado navegadores que satisfazem plenamente como o próprio Compass, o Winner e o Totem, que também veio contribuir em muito para o levantamento das provas, com o roteiro quase sem erros na confecção de uma boa planilha.

Não podemos deixar de citar a participação do Exército brasileiro que foi de grande ajuda, principalmente nos primeiros anos, com sua tropa ajudando os pilotos nas trilhas onde em alguns trechos se tinha dificuldade de locomoção. Lá estavam os soldados prontos para te puxar e empurrar, ajudando a todos com disposição. Também quando se atravessava rodovias, nas cidades e lugarejos eles também estavam presentes. Não sei porquê, de 97 para cá, não tivemos mais a participação do Exército. Temos que citar também os presidentes do TCMG que vieram antes do Enduro da Independência - primeiro, João Davi depois Paulo Henrique Vaz de Melo e Paulo Celso Machado e, também os que vieram depois de Rominho, que deram continuidade ao evento até os dias de hoje. Nesta ordem vieram Aires Mascarenhas, Glauco Magalhães, Domingos Miranda Maia, José de Sousa Pereira, que fez a prova em sete dias, indo e voltando. Saiu de Belo Horizonte para Tiradentes, e de lá para São Lourenço onde se encarrilhavam as motos e se deslocava até Ubatuba, de onde se retornava a São Lourenço, de lá para São João Del Rey, de lá para Ouro Preto e finalmente no sétimo dia de Ouro Preto para Belo Horizonte. Depois foi a vez de Antônio Porfírio Neto que deu lugar para José Carlos Morais depois Abraão Hissa Neto, depois foi a vez de Ricardo Luquesi que ficou três anos, que deu lugar para Carlos Alberto Leite de Sousa (Fiotinho), depois Rogério Gomides, depois assumiu em 1988 Helvécio Ribeiro que está até hoje.

No ano passado a SMP&B deixou o evento faltando poucos meses para começar o levantamento da prova. Sem patrocínio para a prova de 2001, Helvécio confidenciou para Rômulo Filgueiras, que disse para Helvécio: - Deixe comigo, vou ver se consigo alguma coisa. Num encontro entre Rômulo e Paulo Emílio Lima Carreiro (ex-gerente de publicidade do Jornal Estado de Minas) na Motostreet; Rômulo disse: - Paulo você sabe que o Enduro da Independência está sem patrocínio? Por que vocês, do Jornal Estado de Minas, não patrocinam este evento? - Olha velho, isso dá o maior ibope. Paulo respondeu: - Vou conversar com a diretoria do Jornal, e assim o fez. Depois Paulo chamou Helvécio no Jornal Estado de Minas, onde fizeram um contrato para o patrocínio dos anos 2001, 2002 e 2003 (Palavras de Helvécio).

O sucesso do evento a nosso ver se devem a alguns fatores como o entusiasmo de Yvys Alves, a dedicação dos presidentes e diretores do TCMG da SMP&B, na pessoa de Cristiano Melo Paz, a determinação da patrocinadora, que permitiu a elaboração de um projeto bem sucedido, envolvendo toda a sociedade brasileira em todos os níveis sociais e etários, atendendo aos objetivos propostos, proporcionando aos seus participantes a sensação de heróis e vitoriosos, já que eles foram e são os principais personagens destes desafios que perduram até hoje e que tenho a certeza que por muitos e muitos anos.

Mário Ferreira Maciel (Marão) 27-08-2002

Nota esta pagina foi inserida novamente neste ano de 2003, em agosto.